Após a catástrofe ocorrida em março de 2011 na usina atômica de Fukushima, no Japão, os riscos da energia nuclear foram enfatizados e muitos países prometeram abandonar essa fonte energética, mas na prática pouca coisa mudou no panorama nuclear mundial desde então. Pelo menos é o que indica o novo relatório do Conselho Mundial de Energia (CME), lançado nesta sexta-feira (9), dois dias antes do aniversário do desastre. E em um futuro onde a energia atômica provavelmente estará presente, o documento sugere mais segurança e transparência para este setor.
Segundo o relatório, mesmo depois das discussões sobre segurança nuclear e do fato de algumas nações terem declarado que iriam abandonar o uso da energia atômica, como foi o caso da Alemanha e da Itália, os programas nucleares continuaram a ser desenvolvidos, principalmente em países que não são da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como a China, a Índia e a Rússia.
“Muito pouco mudou, especialmente em países [em desenvolvimento] que não são da OCDE, em relação à futura utilização da nuclear no mix de energia depois de Fukushima”, diz o documento.
De acordo com a análise, atualmente cerca de 50 nações estão operando, construindo ou considerando inserir a energia nuclear como parte de seu mix energético. Aproximadamente metade destas ainda é ‘iniciante’ nesta fonte. E das 63 usinas nucleares em construção no mundo, 39 estão sendo instaladas na China (26), na Rússia (10) e na Índia (7).
E se a situação da energia nuclear não mudou muito neste último ano, tampouco mudou a relação da governança mundial com esse setor. “Muito pouco mudou em relação a melhorar a governança global do setor nuclear, enfatizando a necessidade de ação. Há uma necessidade crítica de informar o público sobre as questões relacionadas às tecnologias de geração nuclear, segurança, custos, benefícios e riscos”, aponta a pesquisa.
“O renascimento nuclear continua. Mas há uma necessidade forte de o público ser informado e de mais discussão sobre procedimentos seguros. A segurança não deveria ser uma questão competitiva – deveria ser algo com o qual as companhias colaborassem para garantir que todos estão usando as melhores práticas”, corroborou Christoph Frei, secretário-geral do CME
Por isso, o estudo do CME indica que um acordo global sobre segurança nuclear deve ser urgentemente firmado, visto que a tendência é de que o setor continue a crescer. “A energia nuclear global é uma das questões raras sobre a qual um acordo internacional poderia ser atingido com um nível razoável de esforços – a necessidade de agir é urgente, e o momento é o certo”, continuou o relatório.
Pierre Gadonneix, presidente do CME, ressaltou, ainda, que para que o crescimento da energia nuclear continue, o debate sobre sua segurança é essencial. “Fica claro pelo relatório que a energia nuclear terá um papel integral no futuro mix de energia, especialmente nos países em desenvolvimento, desde que a segurança nuclear e a transparência sejam reforçadas continuamente.”.
“Acredito que há uma oportunidade real para nossos líderes mundiais de promover uma solução consensual para essa questão e, assim, demonstrar que uma governança internacional real, da qual as economias emergentes participem plenamente, pode ter sucesso”, acrescentou Gadonneix.
Alessandro Clerici, da presidência do CME, também lembrou que apesar dos riscos que a energia nuclear apresenta, como vazamentos radioativos, ela também pode trazer benefícios, já que por quase não emitir gases do efeito estufa ela pode ser uma grande aliada na luta contra as mudanças climáticas.
“Na busca por energia sustentável, nenhuma tecnologia deveria ser idolatrada ou demonizada. Esse estudo mostra que a opção nuclear não está sendo descartada no mundo. No entanto, fronteiras nacionais não tem sentido no contexto dos graves acidentes nucleares. Portanto, a regulação e as lições aprendidas devem levar claramente à melhoria da segurança das usinas nucleares existentes e futuras”, concluiu Clerici.
Solução para resíduos
Além do risco de vazamentos radioativos durante a produção de energia, as fontes nucleares também apresentam como problema a questão do descarte de seus resíduos. Neste sentido, a Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos publicou, também nesta sexta-feira, um documento com estratégias para lidar com esses rejeitos.
A pesquisa propõe um conceito de estocagem regional dos resíduos, que seriam colocados em instalações independentes mantidas como um empreendimento comercial e monitoradas por entidades governamentais internacionais. Para esses estoques, seriam oferecidos incentivos como compensações econômicas, o que poderia estimular nações a adotar esse mecanismo.
O estudo sublinha também a importância de se aumentar a cooperação e a adoção de tecnologias modernas em regiões onde a energia nuclear vem crescendo, como o Oriente Médio e o sul e o leste da Ásia.
“Nossa meta é avançar as discussões sobre esquemas multinacionais integrados de ciclo de combustíveis que permitam a disseminação de uma energia nuclear pacífica, enquanto reduzem as preocupações com segurança e gestão de resíduos pelo planeta”, concluíram os autores.
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