A Terra
esquenta primeiro, independentemente da incidência das emissões de dióxido de
carbono (CO2) na atmosfera, ou ocorre o contrário? A dúvida já foi
tema de diversas pesquisas científicas sobre o clima e lembra a velha questão
da precedência entre o ovo ou a galinha. Porém, uma pesquisa
recente mostra que, no fim da última era glacial, a ordem foi mesmo mais
CO2 primeiro e temperatura aumentada depois.
O artigo
do pesquisador Jeremy Shakun, da Universidade de Harvard, foi publicado na
revista Nature em abril. O estudo reuniu os dados da Antártida a
outros registros pelo mundo. Em cem anos, os níveis de CO2
atmosféricos aumentaram na mesma proporção que todo o incremento em 10 mil anos
no fim da última fase glacial, de acordo com a pesquisa.
Até este
estudo, não dava para saber qual tinha sido a ordem dos acontecimentos. "A
aparente contradição tem a ver com a maneira como a neve se deposita",
explicou à Folha.com Cristiano
Chiessi, paleoclimatólogo, da USP. Os céticos argumentavam que o CO2
liberado pela queima de combustíveis fósseis não parecia ser o causador de mais
calor no planeta em épocas geológicas anteriores. A ordem parecia ser inversa:
primeiro a Terra esquentava e só depois a atmosfera recebia mais CO2.
É que os
principais registros sobre o clima do passado vêm de cilindros de gelo obtidos
na Antártida. Em lugares de neves eternas, essa "biblioteca" gelada
alcança centenas de milênios. A composição do gelo dá pistas sobre a
temperatura na época em que a neve caiu, enquanto bolhas de ar presas na massa
gelada indicam quanto CO2 havia no ar.
"O
problema é que essas coisas acontecem em ritmo diferente. Quando a neve cai,
ela fica muito tempo permeável ao ar acima dela. Demora para as bolhas se
formarem", justificou Chiessi.
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