Já fazia pelo menos 15 anos que uma pergunta ardia no peito do aventureiro Geoff Mackley: como seria chegar o mais perto possível do rio de lava do Monte Marum e observar a borbulhante massa de rocha derretida? Sua resposta é clara: “Parece a superfície do sol”, ele diz, via rádio, para seu braço direito, Bradley Ambrose. O assistente está empoleirado 100 metros acima numa encosta rochosa, registrando o momento com a câmera. “É como nos meus sonhos mais malucos.”
Marum fica na Ilha de Ambrym, a quinta maior extensão de terra do arquipélago da República de Vanuatu, no sul do Oceano Pacífico, onde estão os poucos rios de lava ainda existentes. Um rio como esses é um grande e permanente volume de rocha derretida que fica borbulhando dentro de uma cratera ou abertura na terra. Desde 1997, Mackley gastou cerca de meio milhão de dólares em expedições a Ambrym para descobrir uma forma de poder descer de rapel os 400 metros do despenhadeiro até o rio de lava.
“Contando com esta, estive no local 13 ou 14 vezes”, diz Mackley. “As filmagens e fotografias que fizemos dessa vez correspondem ao que eu tinha em mente por 15 anos. Nas nossas primeiras viagens carregávamos o equipamento montanha acima, ficávamos em nossas barracas debaixo de chuva torrencial por semanas e no final voltávamos sem ter conseguido ver nada. Aprendi muito com essas expedições e tentei não cometer os mesmos erros. Da primeira vez que
fomos, barracas e equipamentos nos deixaram na mão, hoje utilizamos o que há de melhor. Mas as falhas são humanas, é natural. As pessoas simplesmente piram lá em cima.”
Com Mackley nessa viagem estavam os neozelandeses Bradley Ambrose e Nathan Berg, além do cinegrafista americano Rui Cavender. Ambrose, um cinegrafista freelancer, começou a trabalhar com Mackley alguns anos atrás, quando se conheceram ao fazer a cobertura de um acidente de carro para um canal de notícias.
Essa foi a quarta viagem de Mackley, de 36 anos, para Ambrym. Berg lavava pratos em um café quando Ambrose, cujo enteado era o melhor amigo de Berg, perguntou se ele estaria interessado em ir até um vulcão. Aos 18 anos e sem nunca ter saído do país antes, Ambrose agarrou a oportunidade com todas as forças.
“Eu era um cara barato”, brinca Berg. “Além do mais, estou em forma, malho muito e cumpro com o que me mandam.”
Os três neozelandeses chegaram em Porto Vila, capital de Vanuatu, no final de junho, e Cavender chegou uma semana depois. Uma combinação de clima desfavorável e equipamentos fundamentais perdidos pela empresa de transportes durante a viagem tornou impossível, até meados de julho, embarcar no helicóptero que os transportaria ao topo do Marum. Além da responsabilidade sobre mais de 1 tonelada e meia de equipamento, a pressão dos custos era enorme.
“Na última viagem, há anos, tiramos algumas fotos razoáveis”, disse Mackley, cujos cinegrafistas na época eram dois alpinistas que chegaram a 50 metros do rio de lava. “A única maneira de superar isso era chegar ainda mais perto.”
Estar próximo do perigo é algo que Mackley tem feito desde que começou a trabalhar como filmmaker há mais de 20 anos. Incêndios e acidentes de carro têm sido sua rotina até 1995, quando houve a erupção do Monte Ruapehu, um vulcão em uma ilha do norte da Nova Zelândia. Mackley escalou o cume da montanha por cinco horas debaixo da forte nevasca para fazer as imagens que percorreram o mundo. Uma produtora britânica comprou 15 minutos de seu material no Ruapehu pagando US$ 20 por segundo, US$ 18 mil por todo o esforço. Foi quando surgiu uma nova carreira: viajar o mundo para filmar eventos extremos em lugares perigosos. Desde então, aos 48 anos, começou a caçar tempestades ao redor dos EUA, registrou a devastação causada pelo tsunami na Indonésia e cobriu a Guerra do Afeganistão. Vulcões, no entanto, são sua grande paixão.
Em 1997, o Discovery Channel incumbiu Mackley de fazer uma série de TV batizada de Volcano Detectives. Durante as filmagens, visitou um dos vulcões de maior atividade no mundo, o Monte Yasur, localizado na Ilha de Tanna, em Vanuatu. Enquanto esteve lá, alguns locais lhe contaram haver um grande lago de lava na Ilha de Ambrym.
‘Mentira’, disseram as pessoas que estavam comigo.” “‘Se houvesse um rio de lava, todo mundo saberia disso e seria uma grande atração turística.’ Mas logo descobri que era verdade”, relata Mackley.
Como faltava dinheiro para um helicóptero, Mackley teve que escalar os 1.334 metros de montanha a pé. Quando chegou ao topo, descobriu que um tremor de terra recente tinha soterrado o rio de lava com pedregulhos. “Saíam apenas poucas baforadas de fumaça”, ele conta.
Alguns meses depois, ao saber que a lava havia reemergido, voltou para o local. “Dito e feito, lá estava ela, no fundo da enorme cratera”, disse Mackley. “Tínhamos péssimas condições climáticas e conseguíamos apenas vê-la por alguns segundos no meio da chuva, mas eu tinha certeza de que queria chegar até o fundo. Eu imaginava o que iria se passar e quais dificuldades me esperavam. Levei para Ambrym um pessoal que havia escalado o Everest; eles olharam para a borda do vulcão e disseram ‘não vou descer’. Porém um ‘não’ era para mim inaceitável.”
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